Olá! Semana passada não consegui fazer a newsletter, como muitos me cobraram. O nível de trabalho está insano e quando estou muito cansado não sai texto bom. Melhor deixar uma semana em hiato do que sair escrevendo coisa ruim para o público. Não que essa semana as coisas não estejam apertadas também, mas a cabeça começou a ficar um pouco melhor.
Nesse texto, talvez até meio gigante para compensar a semana passada, além de uma homenagem à música italiana, um tributo aos meus produtos televisivos favoritos: as antigas novelas das sete. Nas próximas semanas voltarei a esse assunto. Pode ser meio mono temático, mas espero que divirta.
Boa leitura!
Eros Ramazotti & Tina Turner - Cose Della Vita
Eros, 1997
Provavelmente, a primeira vez que eu ouvi uma música do Eros Ramazotti na foi na novela Olho no Olho, de 1993. A essa altura, já deveria ser 1994, pois as trilhas internacionais só tocam a partir da segunda metade da novela. O começo de 1994, para mim, foi muito complicado. Caxumba, férias frustradas devido a isso, amigos saindo da escola, aquelas coisas triviais que causam sofrimento efêmero. Apesar de eu ter simpatia por Olho no Olho, era uma novela com narrativa muito complicada. O Antônio Calmon vinha de dois sucessos espetaculares, Top Model e Vamp. Aí se meteu a fazer uma minissérie horrível chamada Sex Appeal, que revelou um monte de beldade mas foi escrita com os pés e dirigida com as pregas. Curiosamente, quase todo o elenco de Sex Appeal foi para Olho no Olho, que estreou em setembro de 1993 e ficou no ar até abril de 1994.
Música italiana em novela das 19h não era algo incomum. Em 1992, na trilha de Perigosas Peruas, o ótimo dueto do Zucchero com o Paul Simon em Senza Una Donna embalava as aventuras da Tuca (Natalia Lage), que fazia parzinho romântico com o ator Vitor Hugo, que foi brilhar muitos anos depois como Picasso na novela Pecado Mortal. Aliás, o delegado Picasso é o melhor antagonista já criado pelo Carlos Lombardi. E, não obstante, em Pecado Mortal o autor usou uma penca de referências de Perigosas Peruas na sua narrativa, principalmente a parte da delegacia e da máfia. Mas vamos voltar à Olho no Olho, por enquanto.
A trama mostrava uma luta rasa entre poderes do bem e do mal. Com olhos vermelhos e malévolos, os vilões da família Zapata, liderados por Cesar e Fred, interpretados por Reginaldo Faria e Nico Puig. Eles enfrentavam os poderes "do bem" de Alef (Felipe Folgosi) e Cacau (Patrícia de Sabrit), os paranormais bonzinhos. Tudo isso contando com a ajuda do Padre Guido Bellini, interpretado por Tony Ramos, que fugiu de Roma após saber segredos obscuros da máfia durante uma confissão. Na novela, ele tinha conflitos internos devido à paixão que nutria pela mãe de Alef, Débora, interpretada por Natália do Valle. Aquela pataquada de autopunição e o escambau que sempre aparece nessas horas quando o sacro quer virar sacanagem.
Como um dos panos de fundo da história foi Roma, nada mais natural que a música italiana estivesse presente na trama. E Cose Della Vita, ainda na sua versão original do disco Tutte Storie, de 1993, era a música tema do casal Guido e Debora. Mas a versão que mais me marcou foi a do disco de 1997, essa do video lá de cima, que tem dueto com a Tina Turner e trechos cantados também em inglês - obviamente.
Essa versão começou a tocar nas rádios ainda em 1997. Provavelmente teve até o clipe rodando no Tele Ritmo ou no Música da Guaíba, mas não tenho certeza. O sucesso era tanto que meu pai ganhou, em outubro 1998, no dia do aniversário de 37 anos, o CD Eros, que tinha essa música como headliner. Esse presente esse dado pelo amigo Sandro Capellari, que no ano anterior tinha presenteado o coroa com outro som de bom gosto, o disco A Fábrica do Poema, da Adriana Calcanhotto, que eu ouvi bem mais do que meu pai.
Outubro de 1998 era uma época bem estranha. Eleições, aquela história lá do desfile no Clube Oriente, que eu já falei em outra newsletter, falta de grana, entre outras coisas. Uma das coisas que mais me lembro daquele período foi da aquisição da nossa antena parabólica, um pouco antes, em agosto de 1998.
Graças a uma entrada de R$ 50,00, que eu ganhei de presente de um tio-avô chamado Zé Terra, pudemos comprar finalmente uma parabólica nas lojas Wallauer, com o vendedor Cesar. O negócio foi tão marcante, e eu estava tão desesperado para poder ter mais canais em casa, que eu lembro exatamente até o dia da instalação. Foi um sábado de manhã. Estava jogando a fita do Speed Racer no Super NES. Era dia 29 de agosto. Na parte da tarde, já com a parabólica instalada, pude finalmente acompanhar, também, os jogos de futebol que a Globo passava à tarde apenas para o sudeste. O empate entre Grêmio x Palmeiras, no Olímpico, foi o primeiro teste da “secação”, agora televisiva. Junto a isso, não precisava aguentar a programação local da RBS TV que preenchia o espaço antes dos jogos. Como a Globo da Parabólica tinha o sinal do Rio de Janeiro, pude assistir aos seriados Dupla Explosiva e Barrados no Baile. Poucas semanas depois, Buffy -A Caça Vampiros entrou no lugar da imitação de Máquina Mortífera.
Foram alguns sábados assistindo à turminha do Brandon Walsh, já na sua oitava temporada. Eu não assistia Barrados no Baile desde 1996, quando deixou de ser exibido aos domingos para migrar para horário local nos sábados em 1997. Eu boiava demais na história. Teve um dia chuvoso que eu me lembro bem: estava comendo Bon Gouter de provolone e tomando Coca-Cola enquanto assistia aos momentos finais da temporada. Nunca imaginaria que aquele seria o último episódio que a Globo passou da série, deixando quem acompanhava as histórias desde 1992 sem o final na TV aberta, já que Barrados no Baile ainda teve mais duas temporadas. Como era bom ter parabólica naquela época...
Confesso que essa não seria a música desse texto. Eu tinha escolhido Più Bella Cosa, também do Eros, e contar sobre outras situações - até porque eu tenho o clipe dessa música gravado em VHS desde a época da Guaíba. Mas Cose Della Vita, além de ser mais marcante, também ganhou muita força recentemente - e eu nem sei de onde ela apareceu. Já faz algumas semanas que eu não paro de cantar essa desgraça, enchendo o saco da Etti a todo momento com SONO UMANE SITUAZOOOOONI QUEI MOMENTI FRA DI NOOOOOI que a coitada já não aguenta mais. Mas esses dias ela bem que começou a cantar, também. Gruda muito fácil na cabeça.
É engraçado escrever sobre essa música. Meu pai ganhou esse CD com 37 anos recém completos, e agora eu sou mais velho que meu pai naquela época. Nossos gostos musicais coadunam em muita coisa. Eu não tenho um filho de 13 anos roubando meus CDs, como era o caso dele. Mas com certeza indicaria para ele esse som para ele ouvir.
Gianluca Grignani - La Mi Storia Tra Le Dita
Destinazione Paradiso, 1995
Música italiana na minha casa sempre foi normal. Minha mãe tem uma penca de CDs e LPs do gênero. Geralmente era a trilha sonora da faxina de sábado de manhã. Baluartes como Sergio Endrigo, Gianni Morandi, Gino Paoli, Rita Pavone, Peppino di Capri, entre outros, sempre me fazem lembrar de tirar o pó das prateleiras enquanto o cheiro de massa de tomate cozinhando brotava da cozinha.
Gianluca Grignani apareceu no Brasil em uma época que a música italiana voltava a ganhar força. Tudo isso graças ao Renato Russo, que tinha lançado um disco em 1995 só com canções na língua de origem de sua família, os Manfredini. Foi o sucesso do disco Eqilibrio Distante, um dos favoritos da minha mãe, que trouxe pro Brasil a Laura Pausini, uma das cantoras que ele gravou. Renato Russo emplacou La Solitudine, um dos covers de Laura Pausini, em Cara e Coroa. Depois, voltaria com Forza Della Vita na trilha número 1 de O Rei do Gado, em 1996, quando ele ainda estava vivo. Já a Laura Pausini teve músicas em Salsa e Merengue, O Amor Está no Ar e teve sua música Se Fué aniquilada em uma versão dance na trilha de Explode Coração.
La Mia Storia Tra Le Dita começou a tocar no meio de 1996. Fazia parte da trilha sonora de Vira Lata - mais uma novela do Carlos Lombardi. Foi escrita totalmente às pressas, para substituir Cara e Coroa. O sucesso de Quatro por Quatro colocou Carlos Lombardi como um dos salvadores do horário, já que conseguiu manter uma excelente audiência depois do sucesso avassalador de A Viagem, a novela anterior. Depois que Cara e Coroa deu uma baixada na bola do horário, Lombardi teve a ingrata missão de escrever mais uma novela com menos de 1 ano de descanso. O resultado não foi dos melhores, mas eu sempre achei uma novela divertida. O autor diz que é seu pior trabalho. Pode até ser, mas está longe de ser ruim.
Foi nessa época que eu ganhei meu primeiro computador, um IBM de 1984. Ele ficava na sala de jantar, já que era o único espaço disponível para um trambolho daquele tamanho. Seu recanto era uma mesa de madeira reforçada, a primeira que tivemos na nossa casa. O barulho da impressora matricial do dito cujo até hoje ecoa nos meus ouvidos. Foi nesse computador que eu aprendi a digitar. Criei meus primeiros fanzines. Comecei a catalogar minhas coleções. Fazia o possível e o impossível com esse computador, que ficou comigo até janeiro de 2000. Muitas vezes, enquanto escrevia nele, a TV preto e branco, uma laranja da Philco/Ford, ficava ligada em Vira Lata.
Lembro muito de ouvir La Mia Storia Tra Le Dita durante as Olimpíadas de Atlanta. Era julho, época de férias. Minha mãe e eu fomos para Mostardas, junto com meu primo Marcos e minha tia Kinha, que estavam nos visitando em Campo Bom, no sábado inicial das Olimpíadas. Portanto, a primeira semana inteira das Olimpíadas acompanhei no litoral, num frio do caralho.
Mas o mais inusitado aconteceu na sexta-feira, pouco antes da abertura das Olimpíadas: ir pela primeira vez ao Carrefour. No inverno de 1996, inaugurou a primeira loja do Carrefour em Novo Hamburgo. Ficou aberta até 2011, quando mudou o nome para Atacadão, outra marca do grupo. O motivo de ir até o gigantesco mercado, até então o maior da região, era comprar uma jaqueta, conhecida por aqui como "Parka". O preço era R$ 17,90. A coisa mais marcante desse dia foi encontrar minha professora de Português da 5ª série, a estagiária Ângela. A dita cuja também foi comprar jaqueta. Devia ser uma promoção gigantesca e muito alardeada, aliado ao intenso frio daquele inverno que foi bem rigoroso.
Das Olimpíadas de Atlanta, assistida em Mostardas, me lembro de um jogo de basquete com a seleção de Porto Rico, cujo craque era um cara chamado Piculin Ortiz. Bom, já se sabe que eu estava na quinta série nesse ano, então os trocadilhos com o nome do cara e órgãos eram inevitáveis. Também teve o jogo do Brasil em que o Dida entregou a paçoca e perdemos vexaminosamente para o Japão.
Dessas férias, também lembro de um revezamento para alugar fitas para Super NES entre meus primos e eu. Uma das que aluguei foi Sunset Riders, mas a gurizada não ia muito longe. Já de volta à Campo Bom, lembro de alugar alguns jogos de Mega Drive, já que minha tia voltou a morar com a minha vó, e o marido dela tinha o console. Entre as fitas estava Road Rash, que eu estava jogando no exato momento em que o Brasil tomou um baile da Nigéria e foi eliminado nas semifinais.
Por fim, algumas das últimas lembranças que tenho de Vira Lata é assistir no televisor Toshiba da sala, em um sábado de noite, antes de ir para uma janta na casa do meu padrinho Mello. Como era perto do período eleitoral, eu julgo mais ou menos ter sido em setembro. Nesse mesmo dia, assisti a um episódio de Confissão de Adolescente, que estava na Bandeirantes. Eu nem sabia que a série não passava mais na Cultura, já que não acompanhava direito. Essa exibição solitária, ao menos para mim, foi junto de um episódio de Agente 86, o único que me lembro de assistir na TV aberta - mas não sei precisar o episódio. Acho que o desespero para comer um churrasco logo em seguida era tanto que eu não memorizei muito bem. O que eu gostava de acompanhar na Bandeirantes nos finais da tarde era Melrose Place, o spin-off de Barrados no Baile que virou uma das melhores "novelas mexicanas" de todos os tempos e que talvez gere um texto à parte.
Um dos grandes nomes do pop italiano, Gianluca Grignani é esquecido por muitos. Inclusive por mim, que só fui ouvir decentemente o disco de estreia dele algum tempo atrás, enquanto lavava louça. La Mia Storia Tra Le Dita ficou novamente popular no Brasil no final dos anos 2000 graças a uma horrenda versão que tocava na novela Um Anjo Caiu do Céu, do Antônio Calmon. A culpada era Ana Carolina, que deveria pegar cadeia por assassinar a música. Recuse imitações grotescas e vá atrás do disco do Gianluca que é sucesso.
Essa música foi um dos grandes motivos de eu comprar a trilha sonora de Vira Lata em CD, mesmo que muitos anos depois. Trilha essa que tem pérolas como o cover do Take That para How Deep is Your Love, dos Bee Gees, Cranberries e Oasis. Na semana que vem, continuo no assunto, já que teve coisa boa depois de Vira Lata - principalmente em trilha.
Até a próxima.
Matheus
Topzera meu querido. A música do Eros mesmo direto passa aqui na rádio local de Long Beach. Coisa fina. Uma música italiana que curto bastante é a Sapore di Sale do Gino Paoli, a música é antigassa e crocante demais
Rolê d'Italia, acho que gosto só de Pino Daniele. BLUES NAPOLITANO.