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A seguir, as músicas e memórias dessa semana.
BRUCE SPRINGSTEEN - BORN TO RUN
Born to Run, 1975
A primeira vez que eu ouvi Bruce Springsteen foi em 1997. O marido da minha tia possuia uma boa coleção de CDs em casa e um deles era o Greatest Hits do Bruce. Eu nunca tinha ouvido falar no cara com meus 12 anos de idade. Muito menos sabia que músicas como Dancing in the Dark, Born in the USA, Glory Days, entre outras que com certeza eu já tinha escutado na infância, eram dele. O aparelho de som que eu ouvi pela primeira vez Born to Run era um Aiwa, que tinha carrosel para até 5 cds - as modernidades inúteis da época... Lembro que os outros CDs que diviram o espaço com o Greatest Hits no aparelho foram um Money for Nothing, do Dire Straits, e o Crossroads, do Bon Jovi. Fuçar na casa alheia era uma boa maneira de descobrir novidades em uma era de informações escassas.
Quando começaram os primeiros acordes de Born to Run, música que abria o Greatest Hits, eu já percebi que era algo bem antigo - ao menos para o Matheus de 12 anos de idade ouvindo esse som pela primeira vez. Folheando o encarte do CD, dei uma olhada no visual do material, não era algo que me atraiu muito. Não lembro nem se aparecia o rosto do boneco. O CD também não me desceu muito bem (vai entender!), mas Born to Run me marcou. Muitos anos depois, comecei a ir fundo na discografia do Boss. Fui descobrir que Born to Run abria o lado B do disco homônimo, lançado em 1975. Que paulada esse disco. A E-Street Band é uma força da natureza. O saxofone de Clarence Clemons, ao menos para mim, é mais importante que qualquer riff de guitarra que Bruce Springsteen já produziu. Bruce ainda não era o Stallone da guitarra, como virou nos anos 1980, o que deixa claro para mim que, se fizer uma analogia bem torta, o Born To Run está para o Rocky I assim como Born in the USA está para o Rocky IV. Falei que a analogia era torta, mas até que faz algum sentido semiótico.
Passados muitos anos, volta e meia Born to Run ronda minha lista de melhores músicas da história da humanidade. Talvez considere minha música cantada favorita. O poder da entrada final da música, quando ela atinge uma crescente inimaginável após o solo-ponte de saxofone, sendo preparada com um insano "one, two, three, four", é daquelas coisas que parecem tocar direto na alma do cara e desperta um calhamaço de emoções simultâneas. É muito complicado ouvi-la fazendo outra coisa, pois só vou conseguir me concentrar na música. Foi feita para parar tudo e apreciar.
Existem infinitas performances ao vivo dessa canção, mas, infelizmente, ao menos para mim, ela nunca atingiu a perfeição da gravação em disco, mesmo que sobre em emoção e entrega no palco. Não sei quantas vezes ela foi gravada em estúdio até atingir esse patamar de inenarrável obra-prima, mas ficam aqui meus mais sinceros agradecimentos aos que se empenharam nessa iniciativa. Até porque, graças a essa música, surgiram vários clones do modo de fazer música que Bruce e a E-Street Band faziam, principalmente nos primórdios. Exemplo: um dos meus artistas japoneses favoritos, Tetsuro Oda, chupou na cara dura Born to Run para parir essa pérola do cancioneiro japonês, Iroaseta Machi (Cidade Apagada, numa tradução bem livre), lançada em 1981 em parceria com o grupo de apoio 9th Image, o equivalente à E-Street Band dele. A vergonha na cara passou longe - ainda bem.
Born to Run é uma música que, apesar de não me despertar muitas memórias, sempre faz eu me sentir muito bem, independente da letra de casal desajustado que está na luta para fugir para não se sabe onde. But 'til then, tramps like us, we were born to run.
MIKE AND THE MECHANICS - OVER MY SHOULDER
Beggar on a Beach of Gold, 1995
Acho que a primeira vez que ouvi essa música foi por causa da novela Cara e Coroa, um sucesso de Antônio Calmon que foi exibida entre julho de 1995 e março de 1996 na Rede Globo no horário das 19h. Esse som tocava bastante nas rádios jovens da época. Eu considero incrível o poder que trilha sonora tem na gente. Seja de filmes, novelas, seriados, programas de tv, parece que somos jogados para determinada época instantaneamente. Desafio: tente ouvir Wishing on a Star, das Cover Girls, e não aparecer imediatamente a imagem de Daniela Perez na sua cabeça.
Sobre Over my Shoulder: ela foi um dos grandes hits daquele verão de 1996, que eu passei boa parte dele com o braço quebrado depois de um acidente na praia. Na época, eu nem fazia ideia de quem era Mike & The Mechanics. Acho que nunca tinha ouvido falar - os meus tenros 10 anos de idade contribuíam para essa falta de background cultural. Essa música comprova, ao menos para mim, que tudo que os ex-integrantes do Genesis fizeram fora da banda é muito melhor do que fizeram juntos. Não sou fã de rock progressivo e acho a fase dos anos 1980 do Genesis muito melhor que qualquer coisa cabeça que fizeram nos anos 1970. Os discos de Peter Gabriel solo são melhores que qualquer coisa que ele tenha feito com seus parceiros. Talvez só a fase que o Phil Collins, no começo dos anos 1980, foi líder do Genesis empate com sua carreira solo, mas preciso pensar melhor sobre isso. Mike Rutherford, outro dos fundadores do Genesis é um baita músico, bem virtuoso, mas quando faz coisa simples acho que atinge seu ápice. Porra, Over my Shoulder tem um solo de ASSOVIO. Não tem coisa mais simples que isso. É uma música que gruda na cabeça na primeira audição, e que vai ficando melhor cada vez mais.
Essa música me lembra o verão de 1996 assim que começam os primeiros acordes. Mas também me dá outras boas recordações. Principalmente a fase de escutar a antiga União FM, onde essa música era parte constante da programação da emissora de Novo Hamburgo, na época ainda com a narração inesquecível de Sergio Schueler. Pode ser considerada música de sala de espera de dentista. Lembro de ouvir essa música na época da Copa de 2006, em que coloquei aparelho nos dentes e as visitas ao dentista Luiz Ritter eram constantes. Muitas vezes foi a trilha sonora daquele ambiente, decorado com um papel de parede, retratando uma imensa cachoeira, e com inebriante aroma de chá de cidreira, oriundo da garrafa térmica, causava aquela ansiedade misturada com serenidade para ver se já era possível tirar aqueles malditos ferrinhos bucais.
Over my Shoulder também é música para cantar em karaokê. Principalmente pelo desafio que é assoviar o "solo". Meu amigo Eduardo Herrmann é um dos grandes fãs dessa canção, e já protagonizamos alguns momentos hilários no Babilônia, decacente bar com karaokê num muquifo em Porto Alegre. Temos uma piada interna que essa é a melhor música de todos os tempos. Não a toa ela é a música que abre minha playlist que homenageia a antiga União FM, com o nome de "Doutor Sergio e a Hora", já que era a frase proferida diversas vezes durante a programação, totalmente patrocinada pelo advogado, contabilista e filósofo(!) Sergio Celoi Flesch.
Se uma música me lembra verão, chá de cidró e um grande amigo, acho que ela pode realmente estar no panteão das melhores, com certeza.
Obrigado pela leitura. Até semana que vem.
Matheus
É som