Olá!
Hoje vamos voltar para 1995, ano em que essas duas pedradas ficaram sempre no topo das paradas de sucesso e me trazem uma porção de lembranças - e vontade de sacudir o corpo. Boa leitura!
Ini Kamoze - Here Comes the Hotstepper
Here Comes the Hotstepper, 1995
A primeira vez que eu ouvi essa música foi no trailer do filme Pret-à-Porter, quando comerciais estavam na TV promovendo a estreia. Esse filme me marcou por duas coisas: o nome totalmente estranho para mim na época, um trava línguas bem difícil de pronunciar, e também por ser o filme que estava em cartaz junto com o Street Fighter do Raul Julia e Jean Claude Van Damme.
Assisti ao Street Fighter com meu pai logo que o filme estreou nos cinemas. Fui em um sábado de tarde, depois de um almoço/jogo no ginásio do Tiradentes em Campo Bom. Meu pai costumava jogar futebol de salão nesse local, geralmente às segundas-feiras pela noite, como é padrão em toda turma de firma que se preze. Não lembro exatamente o acontecimento daquele sábado, se era algum meio-frango, aniversário, ou coisa do gênero. Só lembro que foi tão marcante o fato de finalmente assistir ao filme do Street Fighter que o ginásio ficou gravado na mente.
Naquela época, o cinema do Novo Shopping, de Novo Hamburgo, custava R$4,00 a entrada, o que já não era muito barato. Era um cinema muito do mequetrefe, que ficava ao lado do Tronix, a ala de fliperama do segundo andar. Geralmente, as filas para filmes atravessavam quase todo o Shopping, indo parar até na Renner, a loja âncora do lado esquerdo do estabelecimento. Curiosamente, naquele dia a fila era pouca. Será que o pessoal não estava empolgado? De qualquer forma, o filme era ruim pra cacete. As legendas eram tão mal feitas que mal dava para enxergar no cinema. Àquela altura, era apenas o terceiro filme que havia assistido no cinema do Novo Shopping. Os outros foram Parque dos Dinossauros (1993) e O Rei Leão (1994).
Foi no mesmo shopping, algumas semanas antes, que comprei na tabacaria com ares caribenhos, que ficava do lado dos banheiros e orelhões, a revista Herói número 16, que tinha a Chun Li de Ming-Na Wen na capa. Era uma edição especial sobre games, coisa rara da editora Acme apostar, já que naquele período quase toda revista tinha Cavaleiros do Zodíaco como tema para vender. Só para dizer que não tinha nada relacionado ao Japão, tinha uma notinha sobre game dos Power Rangers pro Sega CD. Quantas edições da Herói foram adquiridas naquela tabacaria… Inclusive a lendária edição 1, que eu só consegui comprar no relançamento, lá pela metade do ano.
A Herói ter existido e ser lançada nas sextas-feiras é uma das grandes razões que eu sempre considerei esse o meu dia favorito da semana - e por isso que a newsletter também sai às sextas, como homenagem. Toda sexta, o ritual era acabar a aula de educação física no contra turno e correr para a banca do gordo Rogério no centro, para ver se tinha chegado uma nova edição. Caso não tivesse ali, um pulo até a banca do João careca perto do Banco do Brasil, ou então, como último recurso, ir até o cortiço da rua São Paulo, que também atuava como banca. Durante todas as sextas-feiras de 1995, essa era a rotina básica. Era frustrante quando as edições atrasavam e só chegavam no meio da semana. Embora fosse legal adquirir em qualquer dia, cortava o embalo do final de semana, que ficava restrito restrito aos aluguéis de fitas VHS e de Super NES, e ouvindo rádio - principalmente no Fiat 147 do pai. A sede por informação sempre me moveu, e ter acesso restrito a isso era uma agonia.
Focando um pouco em Ini Kamoze, agora. O ano de 1995 foi muito bom para essas músicas mais swingadas. O Ruffles Reggae, festival itinerante que teve sua primeira edição em abril de 1996, só foi possível graças à explosão do dancehall e desse ragga/reggae misturado com hip hop que ganhou as rádios. No Brasil, o Cidade Negra (que você leu na newsletter passada) e o Skank eram os representantes mais fortes e midiáticos. No exterior, Inner Circle, Shaggy, Aswad, TLC, Pato e Buju Banton, Yellowman, Big Mountain, entre outros, puxavam a frente e as rádios tocavam direto.
Interessante como foi um fenômeno que não durou muito tempo, logo sendo suplantado pela música latina, em especial pelo lançamento de Macarena e outros hits durante 1996. Era algo que não acontecia desde o Locomia e o Chimo Bayo, em 1990. Aqui no sul, um dos grandes fenômenos daquele verão de 1996 foi o El Simbolo, com pérolas como No te Preocupes Más, junto com Ilegales, do hit Las Mujeres, e o pseudo-arrasa quarteirão Los Ladrones Sueltos, com La Rubia del Avión e No Le Dijo Nada.
Here Comes the Hotstepper, talvez junto com Mr. Boombastic, de Shaggy, é uma das músicas que mais representam a aura de balanço de 1995, com suas roupas largas, coloridas, muita malandragem e fumaça.
Coolio feat. L.V. - Gangsta's Paradise
Gangsta's Paradise, 1995
Essa paulada, que usa um sample de Stevie Wonder (e que eu só fui saber depois de adulto, é claro), fechou como Top 1 do ranking da Billboard em 1995. Com certeza foi A música gringa daquele ano.
Impossível não lembrar da cara da Michelle Pfeiffer imediatamente assim que começam os lúgubres primeiros acordes da música. Michelle foi protagonista do filme Mentes Perigosas (Dangerous Minds), em que Gangsta's Paradise era a música principal. Aqueles típicos filmes barra pesada da metade dos anos 1990, com uma professora na linha de frente da trocação de ideia, tentando tirar os alunos da criminalidade. Eu não lembro de ter alugado esse filme em VHS na época, mas anos mais tarde, em 2008, comprei ele em um sebo. Infelizmente, devido a problemas de espaço, a fita já tomou o destino não muito glorioso do lixão.
Lembro de ficar com Michelle Pfeiffer na cabeça (eu e a torcida do Flamengo) por muito tempo nos anos 1990, devido à Mulher-Gato que ela fez em Batman - O Retorno. Quando meu pai comprou um aparelho de videocassete, na Páscoa de 1993, as três primeiras fitas alugadas na Video TOK, antológica locadora que ficava na Av. João XXIII em Campo Bom, foram: Batman - O Retorno, Ghost - Do Outro Lado da Vida, e Uma Cilada para Roger Rabbit. Só não assisti ao filme do falecido Patrick Swayze, sei lá o motivo. Acho que fiz bem, pois eu ia ficar várias noites sem dormir caso tivesse visto aquele maldito fantasma do trem interpretado pelo Benjamin Back.
Gangsta's Paradise me lembra muito o final de 1995. Curiosamente, também me remete à Street Fighter - O Filme, que nem a música do Ini Kamoze. Só que de outra forma. Lá por dezembro daquele ano, começaram a surgir os primeiros rastros do Playstation e do Sega Saturn em Campo Bom. Foi na Sander Games, do Silmar, pai da minha colega de aula, Lu. Ele tinha trazido os dois consoles, mas não só isso: trouxe dois televisores de 29 polegadas, algo impensável para o cidadão comum da época, mesmo com o dólar em baixa.
O Silmar ainda não tinha instalado os televisores na locadora, mas convidou meu pai e eu para darmos uma olhada nas novidades. Assim que ele ligou o Playstation 1 e surgiram cenas do filme do Street Fighter, eu quase tive um treco. Que diabo estava acontecendo? Como era possível aquele negócio ter cenas reais dentro de um videogame? Foi a primeira vez que eu tive a sensação de que o futuro tinha chegado. Quando a gente tem apenas 10 anos de idade qualquer coisa pode ser entusiasmante - até um jogo ruim desses, que era um híbrido de Street Fighter com Mortal Kombat, mas sem nenhum glamour.
Aquele final de ano, cheio de gravações de Galera do Barulho e SuperCatch em fita VHS, com a chegada de Mortal Kombat 3 e, principalmente, de Killer Instinct, foi muito louco para mim. Aliado a isso, idas ao cinema para ver o filme do Mortal Kombat (que, segundo meu pai, dava um pau no Street), dos Power Rangers ao som de Chili Peppers e Shampoo (uh-oh, we’re in trouble), e também o filme de Pateta & Max - era o que tinha para ver mesmo. Qualquer saída de casa estava valendo naquele último trimestre. Pode ser uma memória implantada, mas quando toca Gangsta's Paradise parece sempre que é um sábado de tarde indo atrás de novidade naquele final de 1995. Seja indo para Novo Hamburgo no Shopping, seja indo para a casa dos familiares jogar videogame e jantar, ou qualquer outro evento social equivalente.
A trilha sonora do Brasil daquela virada de ano era basicamente Mamonas Assassinas, a porra da música da Simone assassinando novamente o John Lennon, Skank e Gerassamba. Tudo isso enquanto jogávamos Playstation 1 na locadora, com games bizarros como o WWF Wrestlemania e o 2Xtreme. Já o hit parade gringo tinha como baluartes Seal, devido ao sucesso da trilha do Batman, TLC, o já supracitado Ini Kamoze… Mas continuo achando que o grande representante de 1995 foi Coolio, junto com LVm, cantando Gangsta's Paradise ininterruptamente nos nossos ouvidos. Grandes tempos.
Até a próxima.
Matheus
HERE COMZ DA HOTSTEPPA
MUUUURDARAH
Melhor faixa da trilha do filme de MMPR é Freeride, e isso não é negociável.
Confesso que fiquei surpreso ao ler toda a edição sobre 1995 e não ver nenhuma menção à edição nº 10 da Herói. Ainda assim, um apanhado de resgates bem curiosos com os quais me identifico bastante. Esse filme live action do Street Fighter teve uma influência curiosa na minha "construção de personalidade". Eu tinha enormes expectativas antes de ir ao cinema para assisti-lo pela primeira vez, até porque havia todo um alvoroço na época e o marketing de nicho, considerando que estávamos em tempos pré-internet, era bem favorável. Acontece que era muito difícil aceitar o Guile como personagem principal até ali, porque o Guile não era o principal representante da franquia. Isso era papel para a dupla Ryu & Ken, que nesse filme foram reduzidos a dois pilantras de Sessão da tarde. Patético! Mas as coisas conspiraram para fazer o Van Damme ser o centro das atenções e o filme, que era pra ser de porrada, tinha mais cara de filme de guerra com explosões e conflitos militares. Acontece que eu acabei aceitando aquilo (talvez à força mesmo) e comecei a gostar de verdade do Guile, que passou a ser o meu personagem preferido da franquia. Que coisa, não? E já que o tema central da newsletter é trilhas sonoras e o meu comentário acabou se concentrando em cima desse filme do Street Fighter, vale lembrar que eu cheguei a comprar, naquele mesmo ano de 1995, uma revista Videogame que vinha junto com uma fita VHS "grátis" (sendo que a revista tinha meia dúzia de páginas e custava mais do que o dobro do preço normal. ahá). Na capa dessa VHS tinha o logo de "Street Fighter - A Última Batalha" (que ainda nem havia estreado no cinema) e eu cheguei a acreditar que era o próprio filme ali. Mas não! Era uma fita com três videoclipes intercalados com comerciais do refrigerante Sukita. Baita golpe! Pelo menos uma das músicas (a segunda) era o clássico Something There, da dupla Chage & Aska. Talvez a melhor coisa de um filme asqueroso de tão ruim.